As tartarugas verdadeiras de Pipa (Eretmochelys Imbricata)
Conheça as Tartarugas Marinhas de Pipa nessa matéria originalmente publicada pela Revista Bora.
Quando falamos em um animal carismático, lembramos logo das tartarugas marinhas. Esses animais surgiram a cerca de 100 milhões de anos e suportaram todas as mudanças que ocorreram no planeta se adaptando a elas com o passar dos tempos. Apesar da vida no ambiente marinho, esses animais ainda respiram através de pulmões e se reproduzem fazendo seus ninhos em praias arenosas por todas as regiões tropicais do mundo. Com o crescimento da população esses animais começaram a ser ameaçados, direta e indiretamente.
Cinco espécies de tartarugas marinhas ocorrem na costa brasileira (Tartaruga- Verde, Tartaruga-Cabeçuda, Tartaruga- Oliva, Tartaruga-de-Couro, Tartaruga–de- Pente ou Verdadeira). Todas elas estão na lista nacional e internacional de animais ameaçados de extinção (IBAMA, IUCN). A espécie mais ameaçada é a Tartaruga-de-Pente ou Verdadeira que chama nossa atenção pelo grande declínio das populações devido ao consumo da carne e ovos e utilização das placas de seu casco na fabricação de artesanatos incluindo o pente. No nosso país essa espécie se reproduz principalmente no estado da Bahia e litoral sul do Rio Grande do Norte onde as equipes do projeto TAMAR atuam no monitoramento destas áreas.
Tibau do Sul foi onde a história do Projeto TAMAR começou no litoral potiguar cerca de 13 anos atrás com o importante papel do Santuário Ecológico de Pipa, até então pioneiro no monitoramento e proteção dos ninhos no município. Hoje o TAMAR monitora 42 quilômetros de praias no período de Novembro a Junho para registrar e proteger os ninhos ao longo dos municípios de Litoral Sul potiguar registrando mais de 800 ninhos por temporada.
Dentro do município são monitoradas as Praias de Cacimbinhas, Madeiro, Baía dos Golfinhos, Chapadão, Praia das Minas e Sibaúma, totalizando um trecho de 9 quilômetros de extensão denominado Área de Estudo Integral. No trecho do Chapadão a Sibaúma, de dezembro a abril, é executado o monitoramento noturno das praias com o objetivo de flagrar as fêmeas para marcação e coleta de tecido para análise genética dentre outras informações para pesquisa.
As Tartarugas - de - Pente correspondem a 98% dos ninhos no município e região. Ao longo da temporada são observadas em média 190 desovas. Assim como todas as outras espécies de tartarugas, as Tartarugas-de-Pente apresentam um ciclo de vida muito longo atingindo a maturidade sexual aos 20 anos e podendo viver até 100 anos. Após o período de incubação de 50 a 65 dias, os filhotes rasgam as cascas dos ovos e começam a jornada até a superfície da areia. Estes filhotes saem de noite devido a temperatura ser mais baixa. Após a saída do ninho e a entrada no mar e depois de mais de duas décadas livres no oceano os machos e fêmeas retornam para a mesma região que nasceram, já adultos e prontos para reprodução. As fêmeas que se reproduzem em nossas praias vêm a cada dois anos e fazem de 1 a 6 ninhos com 135 ovos cada. Podem atingir mais de 110 quilos e medir mais de um metro de casco.
Por natureza, os filhotes são uma rica fonte de alimento e desempenham um papel fundamental na cadeia alimentar de muitos outros grupos de animais, por isso, de cada mil filhotes que saem do ninho e chegam ao mar somente 1 ou 2 irão se tornar adultos.
O projeto TAMAR atua no manejo, conservação e Pesquisa das Tartarugas da Região devido às grandes ameaças presentes no ciclo de vida dessa espécie tão importante para o ecossistema marinho. As luzes artificiais e o crescimento desordenado da orla são hoje as maiores ameaças para a reprodução das Tartarugas-de-Pente.
Paralelamente ao monitoramento das praias, são realizadas atividades de educação ambiental junto às escolas da região e grupos que visitam o Parceiro Santuário Ecológico de Pipa, além das atividades de Aberturas de Ninho para a comunidade e turistas que visitam o Município. Temos o privilégio de poder admirar e compartilhar essa riqueza tão ameaçada e esgotada em todo o mundo, mas tão rica e abundante no litoral de Tibau do Sul. Saibamos preservar nossas tartarugas Verdadeiras.
Por Daniel Henrique Gil, biólogo do Projeto TAMAR – Pipa/RN. Texto originalmente publicado na Revista Bora – edição 03 – Dez/Jan 2014